Na sua saga de liquidação do transporte público, incluindo o ferroviário, o Governo anunciou várias medidas, entre as quais o encerramento do troço entre Ermesinde e Leça do Balio da Linha de Leixões ao transporte de passageiros.
Apresenta como justificação para tal decisão que os comboios só transportam três utentes por viagem.
Não diz, contudo, num comportamento de absoluta desonestidade, as razões que levam a que tal aconteça.
Devia dizer que estudos feitos pela CP, em 2004, estimavam que, quando todas as condições estivessem criadas, viriam a ser transportadas entre 21 mil e 31 mil pessoas por dia, sendo esse número revisto, no ano passado, para 2,9 milhões/ano.
ver pergunta de Honório Novo na Assembleia da República Devia, igualmente, dizer que do projecto anunciado apenas foi implementado o trajecto entre Ermesinde (Valongo) e Leça do Balio (Matosinhos), sem que fossem criadas outras paragens para além das de S. Gemil (na Maia) e de S. Mamede de Infesta.
O resultado obtido não podia ser muito diferente.
Não foram criadas as condições para serem servidos grandes aglomerados populacionais, tais como Pedrouços, Águas Santas ou o pólo da Asprela, este a abranger o Centro Escolar, o Hospital de S. João e o IPO e zonas industriais, casos da Arroteia e Guifões.
Não foram construídas as estações ou paragens necessárias.
Não foi feito o prolongamento entre Leça do Balio e Leixões, nem foram construídas as estações e apeadeiros anunciados, na Arroteia, no Hospital de S. João e a nova estação intermodal de Leixões.
Não foram concretizadas as potencialidades previstas de ligação a outros meios de transporte, como o metro no Hospital S. João ou no términus em Matosinhos, as carreiras da STCP e outras linhas de caminho-de-ferro, casos das do Douro e Minho.
Nunca foram encaradas pelo Governo propostas para criar ou usar outras estações e apeadeiros, como em Guifões ou em Águas Santas/Pedrouços.
Muito ficou por fazer, embora muito tivesse sido gasto, em electrificação e duplicação da via, para viabilizar o transporte de passageiros na Linha de Leixões.
Só que deixou-se o processo incompleto e, agora e mais uma vez, milhões de euros serão desperdiçados por incompetência e irresponsabilidade do Governo.
E não pode deixar de se recordar a inauguração da linha de Ermesinde a Leça do Balio, ocorrida, com grande pompa, em Setembro do ano passado, nas vésperas das eleições legislativas e autárquicas, com a participação de Ana Paula Vitorino, então Secretária de Estado e candidata a deputada da AR pelo distrito do Porto, e Guilherme Pinto, candidato a Presidente da Câmara de Matosinhos num processo, como todos se recordam, bastante atribulado.
Nessa cerimónia, que hoje se pode confirmar de verdadeira propaganda eleitoralista e que os tempos mostram ter sido mais um embuste, foi reafirmado que tudo o que estava previsto e protocolado iria ser concretizado e, alguns dos aspectos mais importantes, como a construção dos apeadeiros da Arroteia e Hospital de S. João, até Junho de 2010, a nova estação intermodal de Leixões, até final de 2010.
Esta decisão agora anunciada pelo Governo acontece não obstante a sua afirmação, em 23 de Novembro passado, pouco mais de um mês, na resposta a uma pergunta do PCP sobre este tema de que “não está previsto o encerramento da linha de Leixões”.
Será que a realidade de então é diferente da de hoje?
Mais uma vez esta região e o distrito do Porto são penalizados pelo Governo que tem na discriminação, em termos de investimento público, uma das suas imagens de marca, com consequências económicas e sociais cada vez mais dramáticas e visíveis.
Enquanto isto acontece, a Autoridade Metropolitana de Transportes que poderia, e deveria, dinamizar as potencialidades existentes em termos de um melhor aproveitamento dos transportes existentes, públicos e privados, permanece indiferente a esta decisão do Governo. Será que existe para avalizar o que este decide, mesmo que afronte a racionalidade e os interesses da população da área geográfica que devia ser a sua principal preocupação em termos de serviço?
E sendo que os concelhos de Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto e Valongo são, directamente, atingidos por esta medida e, também, toda a área metropolitana pela perda de um importante meio de transporte, como compreender o silêncio da Junta Metropolitana do Porto, uma vez mais passiva e incapaz de defender os interesses da economia e do bem-estar da população?
O PCP já propôs, na Assembleia Metropolitana do Porto, o agendamento da discussão deste problema indo reclamar a urgência da sua discussão.
Na Assembleia da República, por várias vezes os deputados do PCP eleitos pelo distrito do Porto questionaram o Governo quanto ao efectivo funcionamento da Linha de Leixões e assim continuarão a fazer até para saber quanto foi gasto num processo que nunca vontade de concluir, antes parecendo ter servido exclusivamente interesses eleitoralistas.
Fonte:
Organização Regional do Porto do PCP - 30.12.2010/ http://davidferroviariofotosenoticias.blogspot.com