Aquela plateia de personagens ditas ilustres e respeitáveis reflectia o desconforto que preside agora aos então “nubentes”. Eles sabem quão defraudados foram os que acreditaram nos seus propósitos, embalados pelos cantos de sereia de uma integração económica que não cuidava das especificidades nacionais e por isso surdos às vozes cautelosas que anteviam perigos e dificuldades. Foram eles, de cerviz dobrada, curvada e obediente, que sem negociação, nos colocaram expostos e dependentes perante a lógica capitalista da concentração e da desregulação.
Por isso o discurso dominante da cerimónia dos 25 anos procurou dourar a pílula, encontrando nestes personagens europeias gente clarividente, corajosa e determinada, ou de forma degradante, colocando alguns a falar encomiasticamente de si próprio. O espectáculo não aqueceu, mesmo que o mega-party decorresse em duas sessões, em Lisboa, presidido por Cavaco Silva e José Sócrates e em Madrid, presidido pelos reis de Espanha.
Para o futuro, ficam os discursos que denotando uma grande falta de vergonha, oscilam entre os que acham que a situação presente é insustentável, e outros acham que é só difícil, sendo que para todos nós é sentido como dificilmente sustentável. O projecto europeu está reduzido ao malfadado PEC, ao servilismo face ao capital financeiro, a uma austeridade grave para muitos (sempre os mesmos!) com impostos e desemprego.
Mário Soares e Hernâni Lopes querem mais Europa. Pergunta-se se é esse o caminho. A maior dependência, maior desigualdade, com destruição do aparelho produtivo, desperdício dos recursos materiais. Pergunta-se se o federalismo, o reforço do pilar europeu da NATO, a elaboração de orçamentos nacionais em Bruxelas, a desregulamentação total do emprego, nos conduzirão algures.
O divórcio já esteve mais longe.