sexta-feira, 16 de abril de 2010

REGISTOS DA HISTÓRIA – IV

No ano de 2003, no auge da invasão do Iraque pela Coligação liderada pelos Estados Unidos da América e Grâ-Bretanha, Cristiano Ribeiro escreveu um texto poético, publicado no O Progresso de Paredes, de 11 de Abril.
Álvaro Pinto, na qualidade de membro da Assembleia Municipal de Paredes, leu o referido texto em sessão da Asssembleia, provocando a irritação de alguns, nomeadamente do Presidente da Junta de Freguesia de Recarei, Pedro Nunes (PSD).
Eis o texto:

A ESTRADA DE BAGDADE

Corre veloz o tempo
no asfalto da estrada de Bagdade
na agreste companhia
do vento do deserto.

Percorre-o agora uma força implacável
um demónio uma fúria uma vingança
á ilharga de estranhos deuses invocados
no comércio mentiroso da esperança.

Ó Mesopotâmia!
Querem libertar-te
agrilhoando teus pulsos
querem seduzir-te
violando teu corpo
querem-te dócil
para melhor os servires,
das entranhas até aos ossos,
porém, resistes!

Ó Mesopotâmia!
Na tua memória
persiste o tropel de tantos exércitos
de ambições loucas
e vontades férreas.
Agora querem redimir tua sede,
tua dor, teus mortos
extirpando-te a alma
e secando teus poços,
porém, não desistes!


As lagartas das máquinas de guerra
deslizam na estrada de Bagdade
imperiais e ofegantes,
atrasadas para o festim
e eles iluminam teus céus
atroam tuas cidades
penetram sem aviso
os limites das tuas portas.
Pássaros de fogo
cercam a cidadela do teu coração
e pulverizam a esperança
com bombas de fragmentação.

E quando exausta e vencida, já deitada
te faltar a coragem, as armas, a vontade de lutar
Ó Mesopotâmia!
Não te rendas aos invasores!
Olha-os nos olhos
orgulhosa, firme no olhar
e canta, canta que em todo o mundo é possível
um Tigre e Eufrates de águas límpidas
e que em todo o lado há gente
que sofre sem chorar

E então senti-los-ás reflectir
senti-los-ás vacilar
sentir-te-ás renascida
Ó Mesopotâmia!
Tu és de todo o lugar!
E, nós, os filhos da justiça
teu nome faremos honrar

Corre veloz o tempo
no asfalto da estrada de Bagdade
longa a jornada,
incerto o destino,
paciente a razão
num sofrimento
sentido

No asfalto da estrada de Bagdade
nascerão flores
que enfeitarão cabelos de crianças
e então morrer, finalmente
será proibido.

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